Era chegada a
hora! Após meses de inactividade, tinha sido enviada nova convocatória à Irmandade
da Vacaria. Ponto de Encontro: o 48º Encontro Mensal de Roleplayers de Lisboa. Os
maiores heróis de Faerûn estavam de regresso. Seis bravos e destemidos campeões
da bovinidade roleplayística juraram solenemente combater as forças de Tiamat! E
então, chegado o momento, chegada a Hora H… apareceram dois.
Ok, este
provavelmente não vai ser o relato mais épico da História de Dungeons &
Dragons, mas em nome do esforço de dois jogadores e um DM em não baixar os
braços, rejeitando votar ao esquecimento o Legado da Irmandade da Vacaria, será
igualmente alvo de uma crónica epopeica na tradição de Homero!
Mais vale meia vaca na mão, do que uma vaca
inteira a voar (este título é terrivelmente spoileresco…)
Ora bem, fazer
uma sessão de D&D com apenas 2 jogadores não é propriamente o que se
aconselha nos livros. Mas, a bem da verdade, 99% do que fazem os loucos
desvairados que integram a Irmandade da Vacaria também não vem propriamente no
“manual de boas práticas de D&D”. E portanto, cheios de entusiasmo e
motivação (leia-se: cerveja e café), os 50% de Irmãos Bovinos necessários para
estabelecer quórum fizeram-se à aventura…
Da última vez
que a pequena cidade de Phlan tinha visto o Guardião do Legado da Irmandade da
Vacaria, o clérigo anão Khan Bleedingaxe, este decidira juntar-se aos Harpers,
os tipos bonzinhos que protegem os fracos e oprimidos do mundo, yada yada yada,
boring boring boring, bocejo, bocejo, bocejo. Khan (clérigo de nível 3)
regressa a Phlan na companhia de dois jovens recrutas Harpers (que é como quem
diz “dois NPCs genéricos pré-fabricados com cara-de-alvo para irem à frente na
dungeon a tropeçar nas armadilhas”). No já famoso “Bule de Chá da Madame
Freona” conhecem o rogue Andrezel. Devo dizer que existem fortes probabilidades
de o nome dele não ser este, pois ao fim de 3 horas, e mesmo depois de ver o
nome escrito 20 vezes, tanto eu como o DM continuávamos a chamar-lhe outra
coisa qualquer. Ora, Andrusil era um agente Zhentarim. E por aqui é fácil os
leitores mais atentos aperceberem-se de imediato que esta é sem margem para
dúvidas uma aventura da Irmandade da Vacaria, pois juntar Harpers e Zhentarims
é mais ou menos a mesma coisa que juntar Jedis e Siths. Mas enfim, em amena
cavaqueira ao redor de um baralho de cartas, lá se encontravam civilizadamente
a sociabilizar estas pobres vítimas do Destino.
Eis senão
quando, entra um guarda dos Blackfists (os guardas corruptos da cidade), e
afixa um poster de WANTED no meio da taberna. Dois desonestos meliantes,
Spernik e Teebem, eram procurados pelo Lord Sage da Biblioteca de AlePhlandria (or something…), sendo que
Teebem já se encontrava capturado. Perspicazes como poucos no continente de
Faerûn, tanto Khan como Andrezinho souberem de imediato que isto era… UMA
MISSÃO PARA A IRMANDADE DA VACARIA! OH YEAAAAH!!!!
A biblioteca, e a violinista sexy
Já que o apelo
para caçar os criminosos tinha sido lançado pelo Lord Sage, tornou-se de
imediato óbvio que a nossa primeira paragem era a biblioteca. Depois de passar
algum tempo às voltas dentro do edifício – e com vontade de esmurrar os
cretinos dos escribas que não paravam de mandar vir comigo e com os dois
recrutas por estarmos a encher o chão com lama por causa das nossas botas (Notem
a mais do que óbvia discriminação por parte do DM contra os Harpers: as botas
do Zhentarim estavam limpinhas, só mesmo os Harpers é que cagavam o chão todo! Let’s
face it: o crime compensa…) – acabamos por chegar aos aposentos do Lord Sage. Este
diz-nos que Spernik e Teebem se estavam a fazer passar por escribas, e que
roubaram um livro com a localização de um certo “Circle of Scales”, uma antiga
organização de druidas que queria dominar dragões. Não só roubaram esse livro
como outros tantos, e ainda deixaram cópias adulteradas no lugar dos originais,
ocultando precisamente a informação sobre o Circle of Scales. Espero ao menos
ter apontando este nome correctamente, senão ainda acabo a descobrir que passei
o tempo todo a correr atrás do Cirque du Soleil…
Continuando,
Teebem foi capturado, mas recusa-se a falar. Encontra-se na prisão, tendo
provocado a morte de um dos Blackfists.
Delineado que
está o ponto de partida, é chegada a hora de procurar informações úteis.
Andrizélio
dirige-se ao Laughing Goblin Inn, frequentado por ralé da laia dele, e usa os
seus contactos no submundo dos bandidos, drogados, mete-nojo, pilha-galinhas,
chungaria, vira-lata, para recolher informações sobre os dois gatunos.
Infelizmente, passa boa parte do tempo com os olhos numa violinista sexy, que
toca freneticamente o “Presto/Verão” de Vivaldi, e a única coisa que descobre é
que os dois gajos estavam a preparar uma grande expedição.
A prisão, e novamente as botas dos Harpers
Se há sítio na
cidade onde é expectável que alguém se dirija para comprar material para uma
grande expedição é a loja do Senhor Cockburn. Além do facto de o dono da loja
ter um apelido extremamente suis generis,
há dois pormenores de relevância nesta visita: 1) os Harpers voltaram a borrar
a loja toda com a lama das botas (nota mental: escrever ao Elminster a pedir
botas mágicas encantadas com “prestidigitation/instant clean”); 2) o Senhor
Queimadura-na-pila guardou um bloco de notas pertencente a Spernik e Teebem,
onde se encontra uma folha rasgada com parte de um mapa. Eureka! Isto é XP
garantido!
A altas horas
da noite, rumamos à prisão, onde os guardas corruptos, mal-educados, e broncos,
se recusam a deixar-nos visitar os calabouços. Nem com os sucessivos subornos
do Androzono a coisa lá vai. Já a fazer contas de somar ao XP que um grupo de
guardas citadinos deve valer, recordo-me nesse instante da NPC com quem nos cruzámos
na última aventura, a Capitã Aelid, e brado o seu nome aos céus! MAGIA!
Adivinhem quem surge nesse preciso momento atrás do nobre clérigo? Estão a ver,
crianças, como compensa tomar notas durante as sessões? Ah, pois é!
Já não vamos a
tempo de falar com Teebem, pois este foi enforcado. Mas conseguimos obter
(entre os seus pertences) uma chave de ferro, e o papel com a segunda parte do
mapa.
The roof, the roof, the roof is on fire
Estando de
noite, e a nevar, o grupo dirige-se à estalagem para pernoitar. Segue-se um
daqueles pitorescos momentos onde os PCs fazem figura de urso. O DM pede “perception
checks”. O meu anão falha. Andrezímio falha. E portanto somos acordados pelos
NPCS PREGENS DE NÍVEL 1 QUE PASSAM NO PERCEPTION CHECK, porque alguém acaba de
sair do nosso quarto!
Segue-se uma
frenética perseguição nocturna pelos telhados de Phlan, com Andrezombie a
perseguir a estranha personagem que se pôs em fuga. Ora, dou comigo a pensar
que não faz grande sentido um clérigo anão andar a pulular de telhado em
telhado, portanto tento segui-los correndo pelas ruas da cidade! Faço um novo
perception check… e falho miseravelmente, ficando perdido algures numa rua
sinistra e escura. Bom, mas ao menos os recrutas Harpers são humanos, e esses
talvez possam juntar-se a Andracite na perseguição! O primeiro começa a saltar
pelos telhados… eu rolo um acrobatics checks… e sai 1! Subitamente, o
desorientado anão, perdido algures pela cidade, leva com um Harper em cima, que
escorrega do telhado. Bom, mas nada está perdido! Ainda temos o segundo
recruta! Novo acrobatics check… 3! E lá leva o desgraçado anão com mais um
soldado a cair-lhe em cima. E assim, nesta noite miserável, além de os Harpers
cagarem o chão com lama em todos os locais onde entram, os bardos poderão
cantar à lua “It’s raining Harpers! Hallelujah, it’s raining Harpers!”
*suspiro* Não
há dúvidas. Esta é MESMO uma aventura da mítica Irmandade da Vacaria.
Retomando a
história: Andrizzle consegue apanhar o ladrão noctívago. Trata-se – CHOQUE! –
da esbelta Scarlet que tocava violino no Laughing Goblin! A moçoila está
desesperadamente interessada em deitar as mãos ao artefacto que se encontra no
templo do Circle of Scales, mas não tem o mapa para lá chegar.
Depois de
combinada uma reunião no cemitério da cidade – provavelmente o único local onde
não corremos o risco de ter Harpers a cair do telhado – Scarlet diz querer
levar o artefacto para a Igreja de Bahamut. Como não conheço a moçoila de lado
algum, digo-lhe que tal só será aceitável após mediação dos superiores dos
Harpers. A ideia não lhe parece agradar em demasiado, mas por agora parecemos
ter o mesmo objectivo em comum.
Só há uma coisa que odeio mais do que o
Culto do Dragão: elfos!
Seguimos em
direcção às Dragonspire Mountains, sendo obrigados a passar pela Darksong
Forest, habitada por elfos. Uma estátua à entrada do desfiladeiro da floresta
montanhosa tem um sinal a exigir 10 moedas de ouro por cada transeunte. Mas que
porra!!!! O cretino do Lord Sage da biblioteca só nos queria pagar 50 moedas
por lhe devolvermos Spernik, e agora tenho que ser esmifrado por elfos? ELFOS??!!
Ainda por cima, tenho que pagar a minha portagem e ainda a dos dois recrutas? Não
me parece! Além do mais, o Zhentarim também não se mostra interessado em pagar.
Ora, COMO ESTAS DECISÕES TÊM SEMPRE MUITO BONS RESULTADOS EM D&D, decidimos
seguir caminho.
Mal damos três
passos, levamos com uma saraivada de flechas. Os malditos elfos, cobardemente
escondidos no topo de um desfiladeiro, começam a fazer ameaças por não termos
pago a portagem. Irritado com o facto de estar a ser extorquido por elfos para
entrar em montanhas que provavelmente pertenceram aos anões há muitos séculos,
envolvo-me numa acesa troca de palavras que termina com algo do género “o único
elfo bom, é um elfo morto!”
Ora, criançada,
mais um conselho do Tio Tasslehoff: meçam bem as palavras, porque o DM pode ser
suficientemente chaotic evil para querer acabar a campanha mais cedo, com um
total party kill.
Nós somos
quatro, os elfos são alguns 10, têm arcos com alcance, e estão no cimo do
desfiladeiro. É impossível matá-los. É impossível fugir. O líder das nefastas
criaturas de orelhas pontiagudas diz que só deixará o resto do pessoal passar o
desfiladeiro com vida se lhe levarem a cabeça do anão, separada do resto do
corpo. Ainda tento resolver a questão apresentando as minhas desculpas, e
reconhecendo que me tinha excedido nas palavras. Mas qual quê! Estes elfos são chaotic
evil.
Eis senão
quando, Androzoide salva o dia! Propõe aos elfos deixarem-nos sair dali com
vida a troco da barba do anão…
A TROCO DO QUÊ?!?!?!!?!?!?!?!!?!?
Sim, leram bem:
a barba do anão! E assim, o honorável Khan Bleedingaxe, fiel sacerdote de Marthammor
Duin, agente dos Harpers, Campeão da Irmandade da Vacaria, amigo dos sacerdotes
da Igreja de Kelemvor, salvador do Moonsea, nemesis do Culto do Dragão… viu a
sua barba ser-lhe tosquiada, com Andrezel a assumir momentaneamente o papel de FIGARO:
[Falar de
Dungeons & Dragons e meter-vos a ver ópera… digam lá se isto não merece
INSPIRATION!]
Mas os boçais
elfos não tiveram muito tempo para zombar do pobre anão, pois nem dois segundos
se passaram, e uma sombra enorme cobriu as montanhas… O pânico tomou conta dos
orelhas pontiagudas, e um tremendo dragão branco fez um flyby, congelando-os
com a sua breath weapon. Justice
is served! No rest for the wicked!
MAS! Calma, que isto não
acaba aqui! O dragão contorna a montanha, e quando dá a volta traz algo na sua
mandíbula. É algo grande. Algo familiar. Algo que faz… MOOOOOOOOOOO!!!
To be continued
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